Impacto do COVID-19 nos investimentos dos fundos de pensão

20/03/2020

Nos últimos 30 dias, o mundo virou de cabeça para baixo. Assistimos a um crescimento exponencial no número de pessoas contaminadas pelo novo Coronavírus (COVID-19), agravado por uma crise geopolítica que derrubou o preço do petróleo em mais de 30%.

Com objetivo de conter a propagação do referido vírus, a maioria dos governantes mundiais tomou medidas de quarentena e restrição da circulação. Com mais de 224 mil infectados e 10.000 mortes em 168 países, até o momento, diversas cidades optaram pelo fechamento total ou parcial do comércio, e algumas empresas já anunciam a paralisação temporária de suas atividades. Nesse cenário, o crescimento do PIB mundial ficará gravemente comprometido.

Essa forte mudança de perspectiva da economia global afetou diretamente o preço das ações e dos títulos de forma geral. Os preços das ações negociadas na Bolsa de Valores brasileira caíram significativamente, o Ibovespa (principal índice da bolsa brasileira) chegou a cair no seu pior momento mais de 40% nos últimos 30 dias.

Essa queda acentuada no preço das ações impacta os resultados dos planos de benefícios dos fundos de pensão de forma geral. Como todos vêm acompanhando, os juros no mundo e no Brasil se encontram em patamares mínimos, jamais vistos na história (taxa de Selic a 3,75%). Neste novo cenário, faz todo sentido possuir ativos que proporcionem retornos mais elevados, compatíveis com a taxa de juros dos planos, que, contudo, elevam o risco, como o proporcionado pelo segmento de renda variável. Nesse contexto, devido às fortes quedas nos preços das ações, as rentabilidades dos planos dos meses de fevereiro (vide Relatório de Investimentos de Fevereiro/20) e março serão negativas, com a exceção das rentabilidades do perfil super conservador.

Nesse momento, acreditamos que possa existir um certo exagero dos agentes econômicos em relação ao preço dos ativos, por desconhecerem a extensão e o tamanho dos impactos que serão causados na economia.

A humanidade já passou por diversas crises (econômicas e sociais) e sempre conseguiu sair delas mais fortalecida. A título de exemplo, nos últimos vinte anos, passamos por quatro grandes crises que afetaram significativamente o preço das ações brasileiras. Foram elas:

  • Ataque às Torres Gêmeas (setembro de 2001);
  • Crise do “subprime”, hipotecas americanas (2008);
  • Divulgação do áudio do Joesley Batista (maio de 2017);
  • Greve dos Caminhoneiros (maio de 2018).

Todos esses eventos impactaram significativamente o preço das ações das empresas brasileiras. Entretanto, em todos os casos, vimos a recuperação no preço das ações, sendo que o caso em que ocorreu a maior queda foi a crise do “subprime” (queda de aproximadamente 45%) e que teve também a recuperação mais demorada, entretanto, inferior a 45 dias.

Portanto, passamos por grandes crises econômicas e achávamos que, naqueles momentos mais graves das respectivas crises, também não haveria saída. Entretanto, sempre conseguimos sair desses momentos conturbados.

Embora não possamos afirmar que não haverá agravamento da situação atual e nem o tempo de recuperação, acreditamos que, devido à grave situação que o mundo passa, parte do estresse dos mercados se trate de um comportamento de “manada”. Esse termo – comportamento de “manada” ou “animal spirit” -, criado pelo economista britânico John Maynard Keynes, se refere às maneiras pelas quais a emoção humana pode conduzir a tomada de decisões financeiras em ambientes incertos e tempos voláteis.

Levando em consideração os pontos abordados anteriormente, entendemos que, embora a situação atual requeira atenção redobrada, o preço dos ativos encontra-se muito depreciado.

Adicionalmente, entendemos que o momento é de cautela e acreditamos que, embora não consigamos precisar o período de recuperação do preço dos ativos, temos convicção de que, da mesma forma como observado em crises anteriores, ela ocorrerá.

 


por Max Tavares, Diretor Financeiro da Eletros.